segunda-feira, 1 de março de 2010

THE TONGUE LUST STORY


Existem coisas que aparecem como fases na vida. Existem outras que se fazem presente em todas as fases da vida.
A música é um dos elementos de nossa vida.
Filhos de músicos e de amantes da música não fogem da tradição. Já alguns levam a brincadeira uma pouco mais a sério.
A herança do Rock dos anos 60 e da Bossanova. A explosão de Seattle após a década das trevas dos anos 80. Havia uma nostalgia na juventude, um renascimento do Rock.
A redescoberta da psicodelia e do Acid Rock dos anos 70 fundiram Jimi e Led com o que de bom havia sobrado do Punk dos 70/80. Isso foi o suficiente para trocarmos bonequinhos de super-heróis de Natal por um violão.
Algumas aulas para ver a Banda passar, para conceber nossa Sina. Uma tira de quadrinhos no jornal ajudou a determinar os instrumentos de cada um. Morar nos States foi desculpa para uma guitarra e um baixo. Lá fizemos nós a nossa sorte.
Cada um aprende as coisas a seu jeito. Fui de encontro à música. A música foi de encontro ao Ivan, como se ela o tivesse escolhido.
Puberdade: época de segredos, confusões e descobertas. Descobria-me cada vez mais nas Geléias de Pérola. Dizer Ivan, baixo e Primus numa mesma frase era fazer uma redundância. Não foi fácil encontrar parceiros com quem tocar, mas a música se espalhou como um vírus por Palo Alto (CA).
De volta em Barão veio o choque com o velho novo, mas alguns velhos amigos sempre se comunicam em gostos, mesmo sem se ver e sem se falar.
Absorvemos a alegria, o swing e a brasilidade de Davi e ele nossa pegada e fanatismo. A antiga amizade deu conta de nossas telepatia e química musicais.
Em 98 começamos a balançar o Colégio Rio Branco. No fim do ano tínhamos um CD e o privilégio de ter dois bateristas. Pedrão era o elo mais pesado do então Tongue Lust, um nome inventado em 95, do qual até hoje tiramos vários loucos significados, especialmente em sua tradução como Luxúria da Língua.
O Delta Blues era nossa meta. Depois descobrimos que era só o começo...
99 e 2000 foram só de shows. Karambar (hoje Cabong), Delta, Cartoon, Cervejaria do Shopping Galleria e incontáveis repúblicas. Também sobrevieram Cursinhos e Faculdades, que não atrapalharam muito, mas foram atrapalhados.
Em 2001 os laços se afrouxaram. Apareceram Sampa, PUCC, namoros e trabalhos. Alguns insistiram mais na música do que outros; projetos paralelos, e deu que acabamos fazendo só 4 shows em 2 anos!
Começamos a pensar se o Tongue Lust ainda existia, mas quando nos juntávamos para tocar, essa idéia é que desaparecia. O êxtase, a sintonia, a telepatia e a alegria que criamos e sentimos cada vez que mandamos um som, sela a certeza de que a Luxúria da Língua está ainda muito viva.
2003 começou com novidades e esperanças. Graduações, experiências intensas e transformações da vida trouxeram mais shows e mais dedicação à música e à banda. De algumas vezes no Cabong tomamos o Caminho das Índias, renovando os motores e montando metas para o futuro. Não de sucesso ou dinheiro, mas de tocar junto sempre e, com dedicação e amor, continuar espalhando o SOM.
Após um período de maturação profissional e musical, em 2004 a Luxúria da Língua resolveu se unir numa nova investida. Como a banda não seria nossa principal fonte de renda, decidimos colocar todos nossos ideais musicais, culturais, políticos e sociais num projeto novo. Faríamos, então, shows temáticos, contando histórias através da música, passando mensagens férteis por meio de sátiras da vida cotidiana. Atingiríamos todas as idades num modelo “conceitual-popular” com o objetivo principal de conscientização sobre os poderes e perigos da linguagem, temperada por uma fusão do melhor do funk, jazz, samba, soul e do mais puro rock and roll.
A profusão criativa foi instantânea. Era uma música nova por semana. Pessoas saíam dos shows com as músicas e histórias na cabeça. Davam risada, mas também entendiam a mensagem.
Posteriormente, novos integrantes, mas velhos amigos, engrossaram o caldo da Luxúria da Língua. Daniel é para Davi o que Ivan é para Vitor. Um é precisão, habilidade e concentração, enquanto o outro é loucura, impulso e criação. Gustavo trouxe, com seu violino e sua poesia, a mistura do popular e do erudito, enquanto Getúlio ilustrava e costurava o som, com o teatro e a cultura do mito.
Em pouco tempo, a Luxúria saiu do quarto de ensaio para trazer a Campinas o 2º lugar no festival de novos talentos da Secretaria da Cultura de São Paulo, lotar como nunca o Bar Brix (Barão Geraldo – distrito de Campinas), participar do festival “F.E.I.A.”, da Unicamp, e fechar a festa de cultura popular Patipatapatá, além de aparição no programa “Fractal”, da Rádio Educativa (101.9 FM). O resultado dos trabalhos foi a gravação do CD demo, “Universo Luxúria”, uma salada musical para todos os gostos e idades.
Além de alguns shows em casas culturais de Campinas como o Espaço Garagem e o clube Dakitari, a imersão criativa trouxe repertório para novos cds, a elaboração de projetos paralelos de música e inserção sócio-culturais, como o Laboratório Música-Mundo e o Laboratório Cultura-Mundo, além de outros amigos e músicos colaboradores: Neto, com sua flauta e ritmos, acaba com a distância “cozinha-leads”, enquanto Vitinho e seu trompete transformam o que era um conjunto numa verdadeira banda.
Depois da mudança para São Paulo, e morando há algumas ruas de distância, voltamos a nos ver quase todos os dias. Tivemos a honra e a sorte de poder conhecer o grande músico e produtor Fabrício Bonni, Fabricêra. Fizemos grandes parcerias e shows com Montanari, por exemplo, mas não tão freqüentes quanto gostaríamos de 2006 a 2007. Foi quando, no retorno de Davizêra para a bateria em formato Power trio em 2008, surgiu a idéia de montar um Studio na BBC, Blue Bird Community, onde mora o Davizão. Não demorou muito e este mesmo já tinha levantado uma parede, Fabricêra com os equipamentos, sonex e cola, e eu com o gás do retorno de uma dissertação de Mestrado concluída.
Em um mês, o Studio estava funcionando a todo vapor! E mais uma vez provou-se que a criatividade surge da sintonia, da amizade e da sinceridade. Super Somma, Trilokos, Luxúria da Língua em novos CDs profissionalmente produzidos, e muitos outros sons e idéias. Com a vinda de Renan para a BBC, o ciclo se completou, mas minha ida para a Alemanha para um semestre de estudos do doutorado trouxe novas dúvidas em meio às certezas de consolidar e expandir o som. Esse novo período só não seria mais intrigante se Luizinho e os Trilokos não retomassem o projeto de religarem os motores, junto também ao Daniel, dono de uma grande voz e promissor álbum, para o som sair de vez da BBC para o Mundo.
Março de 2010... e essa história continua...

Vitor Blotta (vitor.blotta@uol.com.br)